Notícias

Superior Geral dos Sagrados Corações envia carta aos irmãos

0
Padre Alberto Toutin, ss.cc., Superior Geral da Congregação dos Sagrados Corações
Padre Alberto Toutin, ss.cc., Superior Geral da Congregação dos Sagrados Corações

O Superior Geral da Congregação dos Sagrados Corações, Pe. Alberto Toutin, ss.cc., enviou uma carta aos irmãos de congregação. Intitulada “Filhos das Promessas de Deus”, o documento é dedicado aos consagrados, mas vale também para os leigos e leigas espalhados pelo mundo.

Abaixo, a carta traduzida para o português, na íntegra. Leia e reflita conosco:

Queridos irmãos,

Vocês receberão esta carta na proximidade da festa da apresentação do Senhor no templo de Jerusalém. Esta festa também está associada à festa da vida religiosa. Uma ocasião para agradecer a Deus, junto com a Igreja, pelo dom da vocação e do serviço como religiosos e religiosas na Congregação.

A passagem de Lucas (Lc 2, 22-39) sobre a apresentação, pode nos oferecer algumas chaves de leitura para a caminhada atual de nossa vida religiosa. Convido-vos a centrar a vossa atenção em Simeão e Ana. Ambos estão em uma atitude de ardente espera, pela consolação de Israel, pela redenção de Jerusalém. Uma espera que os une às grandes promessas de Deus e ao caminho de um povo, Israel, ao destino de uma cidade, Jerusalém. No entanto, este povo e esta cidade carregam em si uma vocação universal e estão abertos ao tempo de Deus e ao cumprimento das suas promessas de justiça, de paz, através da vinda do ungido, do Cristo de Deus, para todos os povos. Ambos, alimentam a sua esperança na piedade vivida junto ao povo de Deus que peregrina ao Templo de Jerusalém. Mais uma vez, o templo se estende nos passos do povo de Deus que peregrina na história.

Ardente espera das promessas

Além disso, o texto nos dá algumas características de quem são Simeão e Ana e da maneira como em cada um se declina a espera ardente das promessas de Deus para o seu povo. Simeão é um homem justo e piedoso, observador das prescrições da Lei de Deus e familiarizado com o Espírito de Deus, com os seus movimentos e apelos, disponível para se deixar guiar por ele. Ana, por sua vez, aparece como uma mulher anciã, que viveu sete anos com o marido e depois ficou viúva. O vazio deixado pela morte do marido e o luto não a encerram em si mesma, pelo contrário. Com o passar dos anos, ela se coloca à disposição de Deus e do seu tempo. Como profetisa, ela busca entrar em sintonia com os caminhos sempre novos de Deus, colocando-se a seu serviço no templo e preparando-se para encontrá-lo por meio de jejum e oração. Como se as suas orações e jejuns marcassem no próprio corpo a expectativa de quem é maior que o templo e que não abandona o seu povo.

Por outro lado, Simeão e Ana habitam dentro das práticas e ritos que dão identidade ao povo de Israel e, ao mesmo tempo, cultivam a abertura ao inédito e imprevisível de Deus, que vai além de suas fronteiras. Assim Simeão vendo chegar esses pais que, observando a Lei, apresentam seu filho ao Senhor, então ele reconhece neste filho o cumprimento das promessas de Deus, a consolação para Israel e a luz para todas as nações. Para que reconheçam nesta criança o ungido de Deus, o cumprimento de suas promessas a Deus entra nos longos tempos do aprendizado humano. Essas aprendizagens que vão amadurecendo secretamente no coração como as de Simeão e que procuram os sinais que Deus dá e, quando são reconhecidos, a vida, os seus mistérios, as suas contradições e a longa espera alcançam o seu sentido. E há também aquelas aprendizagens que se fazem por meio de quedas, tropeços e até dores que não são esquecidas. É o que Simeão revela a Maria: Israel conhecerá os caminhos que Deus preparou para o seu povo, quando este passar pelas suas próprias contradições e se levantar das suas pedras de tropeço. A própria Maria não terminará de conhecer o seu Filho, mas quando participar desse outro nascimento, quando ver o seu Filho morrer na cruz e quando acolher aqueles que nele creem no seu amor ao extremo.

Ana, por sua vez,  louva a ação de Deus em favor do seu povo, vendo esta criança. O vazio de sua viuvez, seus jejuns e orações ganham significado quando o encontra. Nele a redenção de Israel já está ocorrendo. Seus olhos intuem na fé o que Deus fará com essa criança, suas promessas já estão sendo cumpridas nos passos, gemidos, crescimentos, aprendizados dessa criança.

Deus nunca para de nos surpreender pela maneira como cumpre suas promessas. Esta criança foi confiada aos cuidados dos pais e ao reconhecimento na fé, de Simeão e Ana.

Filhos da esperança em Deus

Os tempos de incerteza em que vivemos devido à pandemia e as suas consequências muitas vezes dramáticas chamam-nos, como religiosos e religiosas, a ser filhos da esperança em Deus que não abandona o seu Povo. Como Simeão e Ana, precisaríamos nos sintonizar mais com as grandes promessas de Deus, paz e justiça para todas as nações, fazendo nossos também os desejos de uma vida digna para todos que cruzam nosso mundo. Não deveria a nossa fé em Jesus nos obrigar a permanecer vigilantes e atentos aos sinais da consoladora presença de Deus, e prontos a cuidar das suas manifestações e acompanhar as suas realizações, muitas vezes frágeis e pequenas como o menino Jesus apresentado no Templo? O verdadeiro “nunc dimittis” da vida religiosa é aquele que surgirá quando nossos olhos também virem a salvação que Deus continua a preparar em meio às nossas quedas e ressurgimentos e as dores que podem passar pela nossa alma e a de tantos irmãos e irmãs.

Nesse sentido, é comovente ver como nossos fundadores estiveram atentos à ação de Deus em cada irmão e irmã da Congregação. Apesar da timidez e do desanimo de que se censurava o Bom Pai, da sua constante preocupação pela fragilidade da saúde de alguns irmãos e irmãs, olha com ternura o progresso da família religiosa nos três anos já decorridos desde os primeiros compromissos de seus membros (20 de outubro de 1800, festa de São Caprásio). Agradece as dificuldades pelas quais o Senhor os tornou participantes de seu cálice.bDe modo especial, agradece que Deus confiou o cuidado desta família, obra de Deus, à Boa Mãe – a Pequena Paz – junto com ele: “É verdade que a Pequena Paz carrega a luz e Eu não faço outra coisa senão o candelabro” (Carta à Ir. Gabriela de la Barre, 20 de outubro de 1803).

Caminhando juntos, os dois estão prontos para que Deus faça a sua obra neles, fazendo da Boa Mãe um sinal da Paz de Deus, transformando a timidez do Bom Pai em solicitude e atenção para com os irmãos e irmãs. Com esta certeza, o Bom Pai renova então o seu voto mais essencial de acompanhar a ação de Deus nos irmãos e nas irmãs, preparando-os para se aventurarem com confiança nos seus caminhos e assumir com serenidade os seus prazos: “Mas hoje renovo as minhas resoluções para vos levar tudo para a frente, com o meu exemplo, para todos os tipos de sacrifícios que podem dar glória ao nosso Bom Mestre ”(Carta à Ir. Gabriela de la Barre, 20 de outubro de 1803).

Que o Senhor Jesus, nesta festa da apresentação, faça de todos nós filhos e filhas das promessas de Deus e nos renove no voto mais essencial de cuidar de sua ação em cada homem e em cada mulher, nossos irmãos e irmãs, na sua Igreja e na criação.

Fraternalmente,
Pe. Alberto Toutin, ss.cc. – Superior Geral

You may also like

Comments

Comments are closed.

More in Notícias