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Palavras de Padre Eustáquio: A Misericórdia Divina

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Ao centro, Dom Lustosa, ladeado pelos padres e irmãos dos Sagrados Corações, no Triângulo Mineiro

A Misericórdia de Deus é infinita e nos alcança a todo o momento, não por nosso merecimento, mas pelo amor que o Pai tem por nós, seus filhos.

Padre Eustáquio em muitos textos trouxe meditações sobre a Misericórdia Divina por nós, pecadores. Leia um desses textos abaixo. Ele foi tirado do Boletim da Matriz dos Sagrados Corações, datado dos anos de 1950 à 1952.

Busquemos lucrar os mais proveitosos frutos de meditação acerca dos degraus da Misericórdia Divina.

1° Meditação – Deus vos ama. Ó, se Deus nos abandonasse, se Ele na Sua justa ira nos agredisse, qual leão irado, quantas vezes nós O agredimos e ofendemos, se Ele, numa palavra, se afastasse de nós, quanto nos afastamos d’Ele, sim! Então ninguém teria prantos suficientes para chorar, nem lamentos bastantes para lamentar, porque, então, apenas restaria o recurso inútil, o sem percurso do desespero e do tremor!

Ora, assim Deus não é, nem nos paga justamente assim, pelo só motivo de que Ele nos ama e, por isso, quer salvar-nos, apesar de tudo.

E qual é o meio de lhe corresponder, irmãos, há-de ser dando-lhe esquecimento, abandono, ofensa e a agressão, em troca de Sua Bondade?

Sem dúvida, Deus odeia o pecado e a ingratidão, em nós, como o peor mal e a ingratidão, em nós, como o peor mal e Ele odeia isso, porque está em Sua essência que Ele o há de odiar enquanto Deus existir, e, entanto, Ele ama o pecador, quer seu arrependimento, sua penitência.

Ele nos ama, eis aqui uma comparação, qual obra artística saída de suas mãos Divinas, qual alento de sua própria boca, qual prêmio do sangue por nós derramado.

Absalão levantar-se-á contra seu pai reinante, David, referem-nos às páginas sagradas. O crime do filho não podia ser maior, nem mais grave e mais generoso.

O rei havia, e, até devia de perseguir com seu exército o filho revoltoso e vence-lo e levá-lo à razão. Mas, inqueriu de si mesmo, o revoltoso há-de morrer? Não, ordenou o nobre rei, guardai a vida de meu filho. Assim estimou esse rei ao comandante de seu exército.

Entanto, Absalão morre e David vence. Que acontece? O vitorioso desprezou a virória e chorou o vencido: Absalão, absalão, ó quem me dera ter eu morrido em teu lugar, assim geme profundamente o vencedor.

Pois, tal é a situação do amor de Deus a respeito de nós, amados irmãos. Tudo justifica e convida, somente, a vingar-se Ele de nós, já que a sua infinita justiça clama e brada: vingai-vos, só tendes direitos. Todo o céu também grita: vingai-vos. A própria criação protesta: vingai-vos.

Tantos pecados, crimes e ingratidões exigem, decerto, vingança, mas o Coração Bondoso exclama, de cada vez, em resposta: as almas pertencem-me, Eu amo-as tanto, poupai-lhe a vida.

Sim, minha alma, Deus te ama e, só porque, apesar de tudo, te ama, Ele concede-te, ainda, tempo, torna ainda, a chamar-te.

E eu deixarei perder o prazo sem lhe corresponder?

2ª Meditação – Deus vos chama. Sim, irmãos, Ele chama, em várias circunstâncias e de vários modos, a todos e a cada um de nós, em particular, e o Seu chamado, ora mais insistente, ora mais brando, faz-se ouvir, ou sentir nas ocasiões de nossa tibieza ou fraqueza na fé, ou na prática do bem, nos momentos de grave perigo, quando, por assim dizer,temos o pé na beira do abismo, a resvalar na tentação, no instante exato de consentirmos do perigo de pecar.

E as várias maneiras do chamado, temo-las, uma vez, na voz da consciência, outra, na voz do confessor, quantas vezes, nas palavras inspiradas do pregador, e, ainda, nas páginas de um bom livro católico, ou moralmente sadio.

A intensidade do chamado também apresenta suas gradações, tem variada força, assim que toma os nomes de admoestações, avisos, correção, ameaças e, até, punições recebidas de superiores, porquanto Ele nos chama, mediata, ou imediatamente, por si, ou noutrêm, por palavras e exemplos, nem sempre aceitos, nem sempre aproveitados, por desatenção nossa, dureza de coração, rebeldia gravemente arriscada.

Sentenciou Ele, não daqui a cem, nem dez anos, nem a um ano de prazo, mas, dentro de apenas quarenta dias, perecerá Nínive, se não emendar de seus pecados, e fê-lo anunciar por Jonas, por mandado de Deus encarregado de dar aviso à cidade pecaminosa.

E que aconteceu? O povo ouviu a profecia, assustou-se, fez penitência, dos maiores até os menores cidadãos, do rei até o mendigo: Deus talvez perdoará, assim falaram os nonovistas e, se consentir em apagar sua ira, em face de nossas reparações, só assim não pereceremos.

Enquanto isso, o profeta, fora e distante da cidade, à sombra de uma árvore, espera a decisão do Altíssimo, com respeito a ruína da cidade.

Nesse ínterim, seca tal árvore e Jonas, queixoso, chega a desejar a morte.

Sois triste assim, Deus lhe falou, por causa de uma árvore que não plantaste, nascida e perdida sem dano vosso, e, daí, não hei-de eu poupar a Nínive, tão grande cidade, de mais de 20 mil pessoas, que não sabem fazer distinção entre a mão esquerda e a direita? Repreendi, por vossa boca, os errados, escutaram a minha voz, converteram-se, e vou perdê-los ainda?

Assim Deus também admoesta a minha alma, espera com paciência sua volta para Ele, e haverá de sempre, em vão, esperar?

3ª meditação – E Deus, irmãos, enquanto isso, espera por nós, diversamente de como procederiam os homens, que mais depressa desmancham um edifício, ou tanto vale, uma realização, do que a fazem, por que com Deus se dá justamente o contrário, posto que crie num instante, nem por isso resolve tão fácil para perder, ou destruir.

Sim, é de ver-se como, criando, ligeiro opere Deus, pra santificar um João Batista, em Jeremias, para converter um Saulo e um Agostinho, para dar outro coração a Madalena, a pecadora e a Maria, do Egito, para perdoar a Zaqueu e Pedro, arrependidos sinceros, enfim, para prometer o paraíso a Dimas.

Então, irmãos, para punir, ou destruir, chega a parecer que Ele vai deslumbrado de sua Onipotência, como se fora o próprio interessado em a temer e provar, e assim é que Ele espera, hesita, tudo faz por não sair nada do acontecido para exemplo e lição necessários e imperiosos, decididos por exigência da própria rebeldia e dureza de corações dos homens.

Forçado a tomar a vara para castigar, acontece, às vezes, ainda esperar muito para punir, ou fazer-se respeitar, como que, em tudo, esgotando as razões dos obstinados e de dura cerviz.

Quando quis devastar o mundo pelo dilúvio, o que não é fábula, ainda esperou cem anos, mas, quando condenou Ele a Niníve, pôs um prazo de 40 dias. Já para subjulgar o povo de Israel na chorada escravização merecida, levou tanto tempo, que, em vão, houve prazo de mandar vários profetas a converte-los.

Desse modo, mostra Deus quem é, primeiro, Misericórdia, se aceita, depois, Justiça, se rejeita a primeira, e assim é que Deus, que é Deus, tanto nos espera e suporta e sofre as nossas sempre baldadas e vãs ofensas, fruto da nossa cegueira de espírito e vaidade oca.

Mas, esse suportar, e sofrer, e esperar, também tem o seu termo, a sua medida, vão até o ponto de por em perigo e dúvida, os olhos dos homens, o poder, a autoridade e a soberania de Deus, por assim dizer, mais necessária e indispensável para a garantia dos próprios homens. E a medida é o termo, é a ocasião de Deus falar e exigir provas de boa vontade, porque, ninguém Lhe pode negar, em primeiramente, é Sua a autoridade, Sua a soberania, Sua a honra, Seus os interesses maiores, porque também são os dos homens de boa vontade, que esperam no Senhor e não podem ser indefinidamente iludidos e sacrificados na sua esperança, nos direitos de seu Deus.

Assim, Deus nos espera e suporta as nossas ofensas, até onde aos homens parece impossível chegar a longanimidade e a Misericórdia Divina, porém cioso e exigente de seus direitos, também ele tem, agora o momento de os cobrar e fazer valer, porque não vende a garantia de sua autoridade e a solidez de seus direitos de meras aparências artificiosas e convencionais, tão próprias do mundo de hoje, principalmente das esferas dos chamados poderosos do dia, esquecidos, todavia, de que todo o poder vem do alto, ou não é nenhum.

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