Uma foto enorme e linda, com olhar severo e acolhedor ao mesmo tempo. Muito maior, parecia, pela percepção de criança. Aquela foto grande, formato 3×4 em preto e branco permanece na igreja, no comércio e em toda casa da região.
Na escola, o Grupo Escolar Padre Eustáquio, junto com o Hino Nacional cantávamos orgulhosos: “nosso patrono escolar, padre Eustáquio saudamos por Minas e pelo Brasil”. Foi assim que cresci ouvindo as histórias da convivência de minhas tias e o vovô Chico com o santo Vigário da nossa paróquia. Todo ano à espera pela beatificação nos empolgávamos com a festa do dia 30 de agosto. Até que chegou o dia 15 de junho de 2006. Que lembranças tão lindas.
Antes de amanhecer o dia, o povo de Patrocínio já telefonou que o ônibus estava para sair. Depois do almoço o movimento na igreja foi se apagando, os ônibus lotados a caminho do Mineirão… Os familiares haviam chegado da Holanda com o bispo e tantos parentes, amigos e devotos. Do Paraguai veio tanta gente com as irmãs que impressionou. Trajes exóticos dos irmãos e irmãs da ilhas da Oceania. Tantos bispos de vários estados e até países. Os padres? Eram muitos. Centenas. Claro que a maioria de BH. Mas, tinham muitos do interior de Minas, de muitos estados.
De fora tinha bem de uns 30 países. De Roma, veio o Cardeal Saraiva em nome do Papa Bento XVI para proclamar o novo Beato. De lá também vieram a Madre Jane e o Pe. Losada, Superiores Gerais dos Sagrados Corações.
Devotos, religiosas e padres de todos os continentes. Lá da Índia ou do Congo, da Polônia ou do Chile. Das cidades mineiras e também paulistas, capixabas, goianos, cariocas… uma multidão de 80 mil fiéis na Eucaristia presidida por Dom Walmor Azevedo, novo arcebispo de Belo Horizonte. O bispo da Diocese a que pertence Poá em São Paulo não podia faltar. Mas, o arcebispo de Uberaba foi para Romaria da Água Suja acompanhar no telão a proclamação que do Mineirão ecoou em nossos corações.
Lá no gramado estava o próprio Pe. Belém que recebeu a graça da cura milagrosa e não menos emocionado o Cardeal Dom Serafim que, aprendeu de sua avó pedir ao Padre Eustáquio, e foi atendido. Por sua oração junto com Dom João Rezende o milagre aconteceu.
De repente a emoção tomou conta de todo o estádio. Ao ser lido o decreto do Papa, os véus vermelhos, enormes, caíram e revelaram em quatro gigantescos painéis a face de nosso Bondoso Amigo. O novo Beato. O nosso Padre Eustáquio foi elevado aos altares como Bem Aventurado. Aquele podre incansável, que brincava com as crianças, que visitava todas as casas e tomava um cafezinho. Aquele que abençoava os doentes e animava aos fracos e pecadores, aquele que caminhava léguas a pé ou no lombo do cavalo para socorrer uma família aflita, que deixou a sua própria querida família como intercessora, na Holanda, por sua missão no Brasil? Pois é, isso mesmo aquele padre dos refugiados da Guerra, o vigário da Senhora d’Agua Suja e de Poá, de Indianápolis e Irai. O refugiado de Rio Claro e milagroso de Patrocínio. De Ibiá partiu para se tornar o santo da Capital Minera plantando no coração de Belo Horizonte uma igreja dedicada a quem ele consagrou sua vida e seu próprio coração: os Sagrados Corações de Jesus e de Maria que desde o início se alegraram com o carinho do povo que, carinhosamente, a ela se refere como a Igreja “do” Padre Eustáquio. É ali o Memorial, o Santuário Arquidiocesano da Saúde e da Paz.
A voz do povo foi ouvida e confirmada pelo próprio Papa: o Missionário da Saúde e Paz foi beatificado há 15 anos, no dia 15 de junho de 2006 no Estádio do Mineirão por decreto do Papa Bento XVI.
Quando tudo acabou parecia que ninguém queria ir. A alegria era contagiante. As pessoas se cumprimentavam transbordando a efusão da saúde e paz. Era noite. As luzes foram se apagando e o Mineirão se iluminou de milhares de velas. A Procissão do Santíssimo foi se organizando. Fazia frio. Silenciosamente pudemos ainda ver na penumbra Dom Luciano Mendes de Almeida e Dom Serafim se retirando com aquela alegria por Eustáquio que nos ensina a perceber quanta gente boa e santa vive no meio do povo. São a “Torcida de Deus” de todo dia.
“Roga, por nós Padre Eustáquio, vela por nós com amor.”
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