Ainda comemorando o mês dos Sagrados Corações, trazemos uma reflexão do Beato Padre Eustáquio sobre uma nova era de graças trazida pelo Sagrado Coração de Jesus. O texto é de autoria do Beato e se encontra junto com outros materiais do padre holandês que está sendo recuperado no trabalho de higienização e catalogação dos objetos ligados a Padre Eustáquio.
Apesar de o texto ser longo, ele é muito importante para os dias atuais, e traz ensinamentos do Beato que vão ajudar a edificar sua vida.
O Sagrado Coração de Jesus uma nova era de Graças
“Aos 16 de junho de 1675, começou uma nova era de graças para o mundo cristão. Decorreram mais de dois séculos e meio deste dia imperecível da misericórdia divina. O amor infinito de Nosso Senhor Jesus Cristo rompendo os diques dos séculos, se manifesta na sua própria fonte, no seu Coração amante. Sua paciência divina determinou aquele momento, em que os homens, indiferentes ou esquecidos do amor de Deus, só ansiavam pelos bens corruptíveis da terra.
Esta memorável revelação vem modular aos ouvidos das gerações os gemidos dolorosos do Calvário, vem iluminar os olhos com as refulgências amorosas do Cenáculo; vem responder a inclinação mais poderosa da natureza humana: o amor! É que a revelação do Divino Coração de Jesus é necessária para a humanidade porque nela descobre o tesouro completo do seu Amor inesgotável.
Sem dúvida falam á nossa fé os seus pés divinos, banhados pelas lágrimas de Maria Madalena e cansados por seguir no encalço das ovelhas desgarradas de Israel. Sem dúvida atraem as suas mãos, cujo toque sarava os enfermos e cujas carícias afagavam os rostos tenros das criancinhas. Sem dúvida, merecem admiração os seus lábios, cujo sorriso exprimia tanta ternura e cuja palavras consolava tantos infelizes. Sem dúvida, despertam veneração os seus olhos, que choravam sobre o sepulcro de Lázaro e cujo único olhar abriu nos olhos de São Pedro uma torrente de lágrimas. Sem dúvida, enleva e extasia a sua frente donde brotavam tantos pensamentos sublimes, como também, o seu divino semblante, em que resplandecia a majestade do mais belo dos filhos dos homens.
Mas, depois de termos adorado tudo na humanidade santa do Salvador, descobrimos nele um tesouro mais digno ainda de nosso amor, tesouro este que se revela no seu dulcíssimo coração, que deu movimento aos seus pés, a beneficência as suas mãos, o mais nobre encanto aos seus olhos, a misericórdia ao seu rosto, e que foi a urna do seu sangue, como também, o cálice da nossa redenção.
Se, porventura, este suavíssimo Coração nos tivesse ficado como relíquias frias, não construiria mesmo assim, o mais precioso tesouro do catolicismo? Nós que veneramos de joelhos, um espinho da coroa de Jesus, uma parcela da cruz, uma mancha do seu sangue na escada santa de Roma com que emoção não reverenciarmos o seu Coração! Quais seriam os mares quais os desertos que nos deteriam no caminho para essas relíquias amorosas? E ao gentio das artes que levantou tão esplendorosa cúpula sobre os corpos dos apóstolos e dos mártires que milagrosa inspiração não moveria para abrigar a mais pura porção de matéria que as mãos do Criador fixaram?
Pois bem, nós possuímos algo infinitamente melhor do que os frios despojos do Sagrado Coração. Possuímos a realidade viva e palpitante do seu amor. Esse Coração vivo que foi o primeiro continente e motor da vida orgânica de Jesus, nós o possuímos.
Este Coração cuja única palpitação teria resgatado o mundo; este Coração que traduziu em pulsações inefáveis todos atos de amor do Verbo Divino; que cessou de pulsar na Cruz para se reanimar no sepulcro e constitui, agora, o mais belo espetáculo que a sua humanidade possa oferecer ao êxtase dos céus; este Coração, tal qual os serafins o contemplam, vive, palpita e dardeja flechas de amor no sacrário dos nossos altares. Esse amor eterno e fecundo ardente e benéfico, luminoso e consolador, não era bastante conhecido e amado.
Jesus anseia por se fazer conhecer e amar, baixa dos resplendores da sua glória, chega-se a sua criatura e lhe desvenda o mistério de tanto amor. Para que tão deslumbrante visão não fizesse esmorecer a fragilidade humana. Jesus na sua sabedoria e sua benevolência, atenuou os ímpetos dos seus desejos e lhe preparou o ânimo para a pouco a pouco, receber a grande e inefável revelação.
Na manhã de 27 de dezembro de 1673, a vida sobre a terra era a mesma, por toda parte; as mesmas ocupações, os mesmos prazeres, as mesmas dores, os mesmos ódios e as mesmas ternuras, os mesmos trabalhos e as mesmas guerras. Ninguém suspeita que Jesus Cristo, nesta hora, se digna revelar os tesouros do seu Coração Divino. Escutemos e admiremos com toda a emoção de amar e gratidão as portentosas maravilhas desta primeira grande revelação.
Prostrada perante o Santíssimo Sacramento, de súbito, Santa Maria Margarida sentiu-se investida da majestade dessa Divina presença, de tal maneira que já não dava fé nem de si, nem do lugar e vinculada pelos laços de amor, abandona-se às atrações dessa força Divina, repousando sobre o Divino peito que, ao mesmo tempo, lhe descobria as maravilhas do seu Amor e os segredos do seu Coração, até então por ela ignorados. Essa revelação foi tão sensível e tão efetiva, que ainda tímida, nunca mais teve dúvida, pelos efeitos da graça, com que Jesus lhe inundou a alma.
“Meu Coração, disse-lhe Ele, sente-se tão apaixonado de Amor pelos homens que já não pode conter, as chamas de sua ardente caridade. Necessário se faz que se derrame e que meu Coração se manifeste a todos pra que, a ti, agora, descubro, ricos de graças santificantes e salutares, necessários para o arrancar do abismo da perdição. Por isso, eu te escolho a ti, tão indigna e ignorante, para ser o instrumento das realizações dos meus desígnios”.
A segunda revelação: A este prelúdio dos divinos desejos, sucede a manifestação sensível do amor do Coração, que vai atrair as adorações e os amores da humanidade.
“Sobre esse trono de fogo, narra Margarida Maria, mais refulgente que o sol e limpidíssimo como cristal, deparou sê-me este divino Coração, com a sua ferida adorável, cingido de uma coroa de espinhos e encimado por uma cruz. Seu ardente anseio de ser amado pelos homens e de os libertar do cativeiro de satan, sugerira-lhe este inefável desígnio de nos manifestar o seu Coração, com todos os tesouros de graças de santificação, de amor, de misericórdia e de salvação eterna”.
Mais tarde, o divino Mendigo do amor dos homens lhe especifica o duplo caráter da devoção ao seu Sagrado Coração: reconhecer e corresponder às ternuras infinitas e expiar os pecados do mundo.
Ei-lo, num dia de exposição do Santíssimo Sacramento, o meu Jesus apresentou-se resplandecente de glória, as suas chagas fulgidas como cinco sois e de toda a sua divina humanidade dardejam chispas: mas de modo particular, do seu divino peito, semelhante a uma fornalha de fogo, em que me descobriu o seu amável Coração, que era a fonte viva, de todas as chamas”.
A terceira revelação: Jesus, magoado e triste lamenta a ingratidão e a frieza dos homens por não corresponderem ao seu amor. Insiste nos seus pedidos de amor e de reparação. Abrasa o coração de Margarida Maria nas castas e ardentes sarças da sua infinita caridade, investe a fraqueza desta jovem virgem da sua força divina e tendo-a alentado para nada temer, disse-lhe: “Ouvi minha voz, tu me receberás na sagrada Comunhão todas as primeiras sextas-feiras do mês. Para me fazer companhia na mortal tristeza e na agonizante soledade do Jardim das Oliveiras, durante uma hora, das 23h até meia noite, de quinta para sexta feira, prostrada por terra tu me oferecerás as tuas súplicas para abrandar a cólera divina, para implorar misericórdia para os pecadores, para mitigar as minhas amarguras pelo abandono dos meus apóstolos; durante esta hora farás o que eu te ensinar”.
A ultima grande revelação: Na aurora fúlgida de 16 de junho de 1675, raiou o dia memorável, que havia de coroar as grandes revelações. Perante a majestade exposta do Santíssimo Sacramento, Margarida Maria desafogava, agradecida por tantos favores os ímpetos do seu amor. De repente, Jesus lhe descobre de novo o seu divino Coração falando desta maneira:
“Eis aqui o coração que tanto amou aos homens; que a nada se poupou, até se cansar e se definhar, para lhes testemunhar o seu amor. Mas, em recambio, só recebe ingratidão, irreverencias, sacrilégios, frieza e desprezo, com que me tratam no Sacramento do meu Amor. Os que me são consagrados. Por isso peço-te quer na primeira sexta-feira da oitava do Santíssimo Sacramento, me seja dedicada uma festa particular, em honra do meu Coração, comungando todos neste dia, oferecendo-me uma prova amorosa de desagravo e de honra, que sirva de reparar.
Comments