Após a morte, para estarmos com Deus, não podemos estar impuros. Mas, muitas vezes, nós vivemos no pecado e no erro. Por isso a existência do purgatório.
Para nós, católicos, o purgatório é a possibilidade que Deus nos concede de amadurecer radicalmente, na morte. É um processo onde o homem se purifica dos maus hábitos e do pecado, adquiridos ao longo da vida.
Padre Eustáquio, em um dos seus escritos, traz uma reflexão sobre o purgatório. Acompanhe!
AS ALMAS DO PURGATÓRIO
Está acima de qualquer dúvida o grande interesse com que recomendo as vossas orações às almas do purgatório. Um milagre grande e perpétuo da Igreja Católica, e a sua fecundidade sempre antiga e sempre nova de produzir a caridade e socorrer nas misérias.
Percorrei da base para o cume, todos os degraus de hierarquia e achareis que, onde a desordem humana criou a miséria, a caridade de Deus, agindo pela mão da Igreja, criou o socorro. E esta caridade não se limitou aos limites deste mundo, mas passa ao outro lado, vai até ao cárcere, onde estão sofrendo as almas dos defuntos, as almas de purgatório. Ainda que a Igreja não cesse de mandar socorro às almas, este mês em particular, oferece missas e orações especiais pelo descanso dessas almas infelizes.
Em nome delas, eu queria, com as minas fracas forças, acender um amor novo, uma simpatia fértil pra estas pobres almas do purgatório. Sem dúvida pelos seus grandes sofrimentos, deveis por grande interesse em socorrer as almas do purgatório. Deus colocou a bondade no fundo do coração humano e todo ser que sofre, é um ser interessante. É que o sofrimento logo interessa à nossa bondade.
Além disso, depois da perturbação do pecado. Deus deixou cair no coração de cada um o mistério da dor. Não há coração no mundo, quais sejam as aparências dizemos que não carregue este mistério aqui exprimindo pelo verbo sofrer. Assim esta palavra tornou-se a mais eloquente das palavras, para nós é o ser que sofre, o mais interessante dos seres.
Nada chega a melhor entendimento, que pela via do sofrimento. Também me parece que os vossos corações dispostos de antemão, a interessar-se pelo sofrimento, em toda parte onde ele se encontre, me perguntam: – Padre, que sofrem no purgatório os nossos irmãos, que perdemos? Diga-nô-lo… porque quem ama não somente precisa chorar, também precisa de compadecer, aliviar e socorrer.
Que sofrem as almas do purgatório?
A essa pergunta, meus caros irmãos, poderia responder com uma palavra, que, por si só bastaria para mover as vossas almas e enternecer os vossos corações: o fogo, o suplício de fogo! É a afirmação de todos os Doutores da Igreja, de que ninguém pode duvidar, um só momento. Tenho interrogado a este respeito à Fé, a tradição cristã, o instinto dos povos cristãos, eco sempre vivo e fiel da voz de Deus. E, de todos os lados, ouço a mesma resposta, cheia de pavor: o suplício do fogo.
E, neste momento, como que suspenso sobre o abismo para escutar a voz da alma e do coração das almas do purgatório, parece-me escutar vozes dolorosas, que gritam do fundo do purgatório, como o mau rico, do interno: “Crucior in hac flamma” (sou atormentado nestas chamas). No fogo de que ninguém na terra pode formar uma ideia, no fogo em que, tendes fé em mim, ninguém de vós poderia habitar, naquele fogo doravante, fogo terrível, cujo ardor, é verdade, não é eterno, mas cuja violência castiga, diz São Tomás, como o fogo do inferno. Mas, não é pela porta dos vossos sentidos, porém, pela porta dos vossos corações, principalmente, que quero penetrar, hoje, convosco, até o fundo do purgatório, pois, se o fogo faz sofrer sofrimento moral, o mais pesado, é a separação de Deus.
Que faz o grande suplício do coração humano aqui na terra? A separação forçada de quem ama! Interrogai o vosso próprio coração a respeito do mistério íntimo do sofrimento. Por que estas tristes, porque vos perturbais? “Eu sou triste, porque eu sofro, eu sofro, porque estou separado daquele, ou daquela que eu amo”. As almas levarão para a outra vida o maior, do qual todo o amor, aqui na terra, é apenas uma imagem. É o amor a Jesus Cristo. Este amor tornar-se o suplício delas.
Ó almas de nossos irmãos, dizeis-nos como podemos entender o que é amar, como vós amais, e ficar separadas como vós sois. Mas, se as almas do purgatório não vos podem responder, vós conheceis ao menos, o purgatório deste vale de lágrimas, e dizeis-me o que melhor representa na terra, melhor o sofrimento. Não é o desterrado, o órfão? O sofrimento não é o prisioneiro, a viúva? São todos as situações e todas as formas de amores separados, e que guardam, da sua separação, uma ferida que não pode sarar. Ah, vós tendes razão. São estes os verdadeiros sofrimentos e podem ajudar-vos a imaginar os sofrimentos do purgatório. Maiores que os do desterrado, do órfão, da viúva, são as saudades que têm as almas do purgatório, da Pátria Celestial de Deus! Quem é mais órfão do que a alma do purgatório? Podem exclamar com o Salmista: “meu pai e minha mãe abandonaram-me. O sofrimento é o prisioneiro. A prisão é solitária, dura e longa e é um grande suplício estar sozinho.
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