Estamos vivendo o Tempo Pascal, período litúrgico que abrange 50 dias após o Domingo de Páscoa, até o dia de Pentecostes. Este momento nos convida a continuar refletindo sobre a ressurreição de Jesus e o que ela representa em nossas vidas.
A Vice-postulação da Causa de Canonização do Beato Padre Eustáquio encontrou em arquivos do Santuário Saúde e Paz, uma homilia do Bem-aventurado que fala sobre a ressurreição de Jesus. Leia um trecho a seguir:
A Ressurreição
“Ainda ontem, envolta no negro manto do luto, da consternação da dor, a Santa Igreja amargamente chorava a morte do autor da vida. Com toda a pompa fúnebre de suas cerimônias lutuosas incomparáveis, comemorava o mas trágico dos acontecimentos já registrados no mundo.
Hoje, porém, trajando-se das mais festivas galas, revestidos os seu altares do mais brilhante aparato, anuncia a Santa Igreja o júbilo, o contentamento do universo inteiro, por ver devolvido da terra o Autor da natureza, que, fazendo em pedaços os grilhões da morte, glorioso e triunfante para sempre, se levantou de sua funérea campa, como dissera.
Surrexit non est hic¹
Quanto é belo, quanto é sublime o cumprimento dos sábios desígnios da sabedoria increada! Toda glória, toda grandeza e majestade dos potentados da terra, e parecem ignorá-lo os pobres homens, sepulta-se com eles em seu túmulo, prontamente esquecido, ao passo que é no túmulo, por assim dizer, que tem começo a glória, a grandeza e a majestade do Rei dos Céus.
A gloriosa Ressurreição de Jesus Cristo é a prova evidente, é o testemunho autêntico de sua divindade.
Na sua Paixão, Jesus perdera inteiramente as quatro espécie de bens que o homem pode possuir na terra: perdeu os vestidos, até a extrema nudez; perdeu a reputação e foi carregado dos desprezos mais abomináveis; perdeu, por toda a sorte de maus tratos, a florescente saúde e, finalmente, perdeu a vida preciosíssima, pela morte mais atroz que se pode imaginar.
Agora, porém, saindo vivo do sepulcro, recebe com lucro abundantíssimo tudo quanto perdera. Feito pobre, ei-lo riquíssimo e Senhor de toda a terra! O que a Si próprio se chamava verme o opróbio dos homens, ei-lo coroado de Glória, assentado à direita do Pai. Aquele que, pouco antes, era o homem das dores e provado nos sofrimentos, ei-lo dotado de nova força, e de vida imortal e impassível. Finalmente, O que tinha sido morto do modo mais cruel e desprezível, ei-lo Ressuscitado por Sua própria virtude, dotado de sutileza, de agilidade, de claridade, feito primícias de todos os que dormem na esperança de, também um dia, ressuscitarem à imitação do Redentor.
Christus resurrexit a mortuis primitiae dormientibus²
Regozijemo-nos com Jesus Cristo, mas, regozijemo-nos também por nós mesmos, porquanto sua Ressurreição é o penhor e modelo da nossa. Sim, virá hora em que nós ressuscitaremos como Nosso Senhor Jesus Cristo, e nenhum católico ousa pô-lo em dúvida.
Isso consolava o santo Jó, no tempo de sua provação. “Eu sei”, disse ele, e digamos nós o mesmo em meio das cruzes e tribulações da vida presente: eu sei que o meu Redentor vive e que, no derradeiro dia, surgirei da terra, serei novamente revestido da minha pele e na minha própria carne, verei a meu Deus! Essa esperança mora depositada no meu peito.
De fato, irmãos, nosso destino não é a terra nem o sepulcro, porque nosso destino, por mais que a pobre humanidade erre e abrigue vãos pensamentos e ilusórias ideias, é a vida eterna, mas, a vida com Cristo e com Cristo ressuscitado. Aleluia!”
¹Surrexit non est hic (sic) – tradução livre do latim: “Ressuscitou, não está aqui”
²Christus resurrexit a mortuis primitiae dormientibus (sic) – tradução livre do latim:”Cristo ressuscitou dos mortos”
Texto retirado do “Boletim da Matriz dos Sagrados Corações”, publicado em 18 de janeiro de 1948.
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